Esta semana tive duas
surpresas muito agradáveis que me deixaram cheia de alegria, emoção e muito
contente.
Estava no ginásio,
onde costumo fazer as sessões de fisioterapia, quando fui surpreendida por uma
colega de faculdade e do estágio profissional. Foi como recuar no tempo, foi
como se voltasse aos anfiteatros e salas de aula, horas infindáveis de estudo
em conjunto, trabalhos de grupo, onde eu era a mais trapalhona, porque fazia-os
sempre com muita pressa, parecia que o mundo ia acabar, e na verdade, para mim acabou
mesmo, porque terminou um ciclo da minha vida. Partilhamos também os resultados
das pautas, ora alegrias ora tristezas, era sempre uma grande ansiedade, porque
havia muita exigência. O meu curso superior foi muito teórico, difícil para
todos nós, mas claro que haviam os barras que se destacavam do resto dos outros
alunos, ou estudavam muito ou tinham o Q. I. muito elevado.
Quando fiquei em frente
à minha colega, senti uma grande emoção. Parecia que tinha estado com ela há
pouco tempo, não senti a barreira do tempo, foi como se ontem tivesse com ela e
foi aquele abraço muito sentido. Agarramo-nos e foi um descambar de emoções e de
alegria.
Eu não posso cair no facilitismo
de dizer que o passado não interessa, como já referi anteriormente. Não posso
porque o passado persegue-nos, quer nós queiramos ou não. Este faz parte
daquilo que somos hoje e iremos ser amanhã, pois o futuro somos nós que o construímos
conforme a realidade presente. Não podemos ficar à espera que o façam por nós, temos
que construí-lo e adaptá-lo a cada situação que surge diariamente, não podemos
ficar parados, temos de lutar, acreditar e ir a jogo com todas as armas que
possuímos. Ter esta capacidade não é fácil, por vezes tem ser arrancada a ferros, só assim é possível sobreviver e lutar
contra as adversidades da nossa vida, mas de modo a não pisar ninguém, senão
não passamos de meros espetadores, além disso, é preciso ser-se subtis e
humildade. Desta maneira podemos atingir a paz de espírito e estar bem connosco
próprios.
Agora, vou falar da
segunda surpresa que tive, no mesmo dia quase simultaneamente.
Conheci um menino que sofreu um
traumatismo craniano bastante grave, com perda de massa encefálica, este menino
é um guerreiro, tal como eu. Fazemos fisioterapia no mesmo local e também hipoterapia
com o mesmo instrutor, apesar de ele ser acompanhado por um terapeuta
comportamental, que o tem ajudado bastante. Somos bombardeados com muitos estímulos
e por isso estamos bastante melhores. Perto do carnaval, as pessoas mais perto do
Gonçalo apanharam um grande susto, porque ele, sem ninguém prever, caiu em cima
da cama inconsciente e a vomitar. Foi internado uns dias, emagreceu, não comia,
o que é uma coisa estranha naquele rapaz, não reagia a estímulos exteriores e
ficou apático durante uns dias. Lentamente o Gonçalo foi recuperando e para surpresa
de todos que o acompanham, regressou ao seu dia a dia, até parecia outro Gonçalo
como se tivesse ocorrido um “click” para a vida. Ficou mais concentrado nos
seus movimentos, já sabe ficar mais calmo a aguardar por algo que pediu, está
mais atento ao mundo e ao seu redor, mais social e com mais memória.
Já conheci muitos casos de
traumatismos cranianos durante estes anos de reabilitação. Todos são diferentes
entre si, cada um tem a sua história, a sua evolução, características e não há
um caso igual ao outro, apesar de haver sempre comparações, eu própria já as
fiz bastante vezes, acho que e inevitável.
Este rapazito, o Gonçalo tem-me
chamado mais à atenção, porque acho-o especial e também, talvez por estar mais
atenta ao que se passa à minha volta, porque a minha visão assim o permite.
Acho que tanto eu como o Gonçalo,
estamos a ser muito bem acompanhados, por bons profissionais e pela nossa família
mais próxima, alguns amigos e claro pelos nossos anjinhos da guarda que estão
sempre em nós e oxalá que continuem sempre ao pé de nós.
“Quem quer que você encontre é a pessoa certa”
“O que quer que tenha acontecido é a única coisa que poderia ter acontecido”
“Cada momento em que algo começa é o momento certo”
“O que acabou, acabou”