26 outubro 2016

Agora!

Agora o tempo urge e está no tempo de arregaçar ainda mais as mangas. Em cada compasso dos ponteiros do relógio é urgente ganhar mais coragem para o enfrentar e, além disto, ter mais paciência para vencer cada batalha, uma de cada vez, com amor e rosas brancas como munição.

Não, não é nada fácil o enfrentar todos os dias e deparar-me com esta minha realidade de dependência, não nego esta minha tristeza interna. Tento em cada dia que nasce, sempre que o sol adormece no horizonte e em cada lua que nasce, agradecer e pedir forças para continuar o caminho que me foi ofertado pelo destino. Não fui eu, de todo, que determinei este caminho, mas mesmo assim, continuo grata por esta caminhada que Deus me deu. Contínuo a poder ver as pessoas que amo tanto a crescer e a vencer na vida, construindo os seus castelos, pedra após pedra, a ver as suas vitórias e aplaudindo em pé, a torcer e a gritar por eles. Sei que é genuinamente recíproco, mas mesmo que não o fosse, eu iria aplaudir na mesma, porque eu sou assim, gosto de ver e semear muito amor em meu redor, meus amigos.

Agora, tento saborear as pequenas grandes coisas, de uma forma mais lenta e tentando apagar o fogo dos meus desatinos interiores, ao compasso de uma nascente de água límpida, que surge de uma pequena pedra rochosa, que percorre os lagos, rios às vezes profundos, às vezes muito rápidos e por vezes quase parados. Assim, deste modo, apago os pequenos fogos interiores com a energia das águas, bastando e somente estar perto ou imaginar tamanho cenário deslumbrante da passagem das águas até ao regaço da mãe maior, o mar, e acreditar na forças das mesmas. Também gosto de imaginar um campo aberto de girassóis a acompanhar o sol, desde quando este nasce até quando adormece no horizonte.

Agora, talvez esteja mesmo a ficar “cota”, agora parece que estou a perder as pilhas. Contínuo a querer cada vez mais ser uma pessoa com muita calma e a não querer tudo para ontem, como era, e por vezes, ainda o sou, confesso. Tento ser como um girassol, esta linda flor, que todos os dias acompanha o sol, seguindo a sua energia em cada novo amanhecer. Deste modo, quero que o meu percurso abençoado, assim como o de todos os girassóis, seja vivido um dia de cada vez e no tempo certo, contudo tenho a noção que este exercício é bastante complicado para mim e para a minha essência.

Quero viver um caminho repleto de luz em meu coração, é isto que quero para mim.



Patrícia Arsénio


10 outubro 2016

Estranho, mas bom!


Vou escrever sobre a minha espasticidade. O meu tónus muscular tem realmente diminuído e tem feito os seus ajustes com o exercício que faço diariamente, em casa e no ginásio, porque, meus amigos, eu trabalho mesmo. Trabalho por opção e não para fazer vontades a ninguém, trabalho porque quero e tenho vontade em melhorar e colher frutos maduros e sumarentos todos os dias. Realmente colho bons frutos, às vezes, uns mais maduros do que outros, mas enfim, todos numa cesta de verga não se dá pela diferença, apenas ao provar se sabe se os frutos são bons. O tempo é soberano nesta questão porque este senhor é quem dita as regras desta minha caminhada e a rege ao seu compasso em cada dia que amanhece até que adormece, ano após ano girando como uma nora de um rio, como uma roda de um moinho, estes dois só param quando não houver mais água nem vento. Faço questão que esses elementos estejam bem presentes no meu caminho que trilho, todos os dias, a água para me acalmar e o vento para me impulsionar para a frente sem recuos.

Agora tenho de aprender a andar sozinha porque o meu cérebro desaprendeu e o único modo de aprender é trabalhar todos os santos dias para tentar recuperar a informação do meu computador que fez reset.


Todos os dias gravo alguma informação, todos os dias existem novas células no chefinho que aprendem e por isso não desisto. Embora este trabalho seja um bocado ingrato, não dá resultados de imediato, eu sei muito bem disso. Enquanto eu e os meus pais tivermos forças, eu não quebro. Acho que vou buscar estas forças onde qualquer ser humano em desespero vai buscar conforto, à fé, em que existem forças superiores, os meus amiguinhos que me guiam e protegem sempre.

Contudo, como estava habituada a um registo de espasticidade mais acentuado, ainda me faz um bocado de confusão ter o ponto de equilíbrio mais para a frente, é estranho, parece que estou no limite do equilíbrio, mas não estou. Apenas tenho o peso e a transferência de peso no local correto e isto é um passo muito importante nesta fase, por isso é muito bom, mas muito estranho.

Patrícia Arsénio


17 agosto 2016

Mais vitórias!

Aos meus leitores que seguem o meu blogue pandora-ogum desde o início, estou francamente mais fortalecida, tanto fisicamente como espiritualmente. Agora começo a ver o fim à meada, começo a sentir o meu corpo a responder aos estímulos, cada vez mais rapidamente, e isto dá-me mais alento para continuar a trabalhar cada vez mais.

Eu tenho a perfeita noção que não vai ser de um dia para o outro que vou começar a caminhar livremente sozinha, mas tenho de acreditar que consigo mesmo. Treino e mais treino, o resto é perseverança, tranquilidade e acreditar em mim, confiar sempre, mas sempre, que forças superiores me guiam todos os ditas, como as forças do fogo, da terra, da água e do ar.
O fogo impulsiona, faz-nos sentir vivos, aliás basta pensar na pujança de um vulcão a cuspir fogo, na energia de um dia repleto de Sol. O fogo é o motor de ignição da vida, é este que inicia tudo o que nos rodeia. Contudo, este não é menos válido, do que, o que a terra nos oferece, do que a água que corre nas nascentes e desmaia nas encostas, alimentando os rios e os mares deste nosso lindo planeta azul. E por fim, do que o ar, não menos importante, este está sempre presente. E claro é fundamental que estes elementos deem as mãos com harmonia.

O Tempo, este senhor encarrega-se deste lindo casamento da mãe natureza, quase me atreveria a dizer que é a combinação perfeita, contudo têm as suas divergências, mas estão sempre unidos para a eternidade.
Pois claro, já me estou a escrever demais, afastando-me do verdadeiro motivo deste texto, mais uma vez fugiu-me as mãos para falar acerca da mãe natureza como uma alavanca de equilíbrio. Contudo, ela própria também tem os seus desequilíbrios, tal como nós, assim como a natureza tenta se equilibrar todos os dias. Também acho que cabe a cada um de nós encontrar o seu próprio equilíbrio, da forma e da maneira que acha mais adequado. No entanto, nunca, mas nunca, pisar nas costas do outro para subir outro degrau, porque mais uma vez entra em ação o senhor Tempo para fazer os seus ajustes e este é implacável e soberano.

Agora de volta para a minha longa e dura reabilitação, como escrevi num dos parágrafos anteriores, tudo parece fluir naturalmente, os movimentos estão mais automáticos, a motricidade fina melhorou, em relação a andar de joelhos e rastejar no tapete melhorei muito, andar de gatas tornou-se canja. Enfim, todos estes exercícios ficaram mais harmoniosos, mas tenho consciência que tenho de trabalhar muito, mas muito mais, para poder alcançar o topo da montanha da minha vida, que deu uma enorme reviravolta. Aquilo que depender só de mim, assim será.


Continuo nesta luta para ter as rédeas da minha vidinha de volta, enquanto a minha família estiver sempre comigo, e com certeza estará sem restrições e incondicionalmente. Em seguida, encontram-se algumas fotos que mostram parte do meu trabalho diário, que me permite melhorar fisicamente.
Todo este trabalho envolve o empenho dos meus terapeutas, o meu e dos meus familiares, não pretendo demonstrar nada a ninguém, apenas dar a conhecer um pouco do meu trabalho diário a quem segue atentamente as minhas publicações. 

Muito obrigado aos leitores que de certa forma ajudam-me a superar este meu estado, dando-me ainda mais força para prosseguir os meus trilhos.

Patrícia Arsénio

09 maio 2016

Consciência corporal

Mais uma vez estou a ser desafiada na fisioterapia para ter mais representação corporal. É mais um lance de escadas que estou a subir para chegar ao topo do arranha-céus que pretendo passear em seu imenso terraço amplo e ter uma vista maravilhosa, contemplar uma vista com enormes jardins, com enormes campos abertos repletos de flores com todas as cores do arco-íris. Quem sabe, poderei achar a verdadeira direção e traçar também o sentido para a minha reabilitação, porque eu acredito mesmo nela, sem dúvidas nenhumas. Enquanto eu acreditar, e quem está comigo nesta longa estrada também acreditar, tiver recursos monetários, saúde e amor, eu acho que tudo é possível, escrevo isto porque já venci tantas batalhas, que acho que era uma pena após tantas conquistas morrer na praia, e por isto enquanto depender só de mim não desistirei nunca, porque faz parte da minha essência.

Estou aqui com esta conversa toda, afastando-me do tema inicial que me propus relatar, que é acerca da consciência corporal e como a tenho alcançado.

Anteriormente falei acerca da representação do corpo no cérebro e como esta representação é imprescindível e necessária para haver qualquer movimento dos músculos, não basta sentir e ter força, os mesmos têm de ser comandados pelo chefinho, este é que comanda tudo, os movimentos, as ações e reações, as nossas emoções, a nossa postura para enfrentar as adversidades e também nos momentos de tristeza e nos momentos de felicidade. Esta é uma máquina tão perfeita e tão capaz de reagir e interagir com as situações do dia-a-dia, atuando de modo diferente para cada indivíduo, enfim afinal de contas somos todos iguais mas todos diferentes, sobretudo no campo emocional.

Agora vou relatar o trabalho que realizo diariamente na fisioterapia, este é apenas um dos trabalhos que fazemos. No ginásio cujo chão está coberto de colchões, dispostos ao longo da sala de forma simétrica, eu encontro-me com uma venda nos olhos e de joelhos ou em pé tenho que me dirigir aos vários obstáculos que são colocados na sala, conforme o meu fisioterapeuta me pede. Tenho que ter noção do local da sala onde me encontro e memorizar o trajeto.

A sala tem cinco paredes, duas portas e uma enorme janela, um step, uma cadeira, um saco de boxe fixo ao chão e por vezes o terapeuta coloca uma corda e uns pinos no chão para ter referências, uma vez que estou com os olhos tapados, este exercício é bastante complicado para mim e no início cheguei a desesperar, atualmente já não é tanto assim, com a repetição tornou-se mais fácil, até o terapeuta começar a complicar os percursos, é um trabalho muito importante e necessário.

Este trabalho é deveras muito importante, uma vez que tenho os olhos vendados, permite que os outros sentidos fiquem mais atentos e a concentração aumenta bastante, mas é um mal necessário e o esforço é tanto que quase sempre fico atordoada ao fim de algum tempo.

No início desta atividade, há algum tempo, os terapeutas colocavam-me a venda nos olhos e eu perdia-me quase imediatamente na sala, perdendo a noção onde estava, se estava a andar de gatas para a esquerda ou para a direita. A minha perceção era que andava constantemente às voltas a deslocar-me para a esquerda, não conseguia andar em linha reta, não tinha a noção do lado direito, era como se esta parte do meu corpo não existisse apesar de eu ter a sensibilidade normal. A minha consciência do meu corpo foi aumentando com as atividades pedidas, de tal modo que fui tendo uma maior representação cerebral do meu corpo e uma melhor noção dos meus movimentos. Assim, a minha cabeça fez reset e agora tem de ser reprogramada desde o inicio, aprender todos os movimentos com a repetição do movimento, de modo não inato. Isto é, as células do cérebro destinadas ao movimento morreram, estas não se regeneram como por exemplo um osso partido que ao fim de umas semanas está firme, nas lesões cerebrais isto não acontece, estas quando morrem, morrem mesmo. O que acontece é que o nosso cérebro tem plasticidade suficiente para as células que estão ao lado daquelas que faziam o movimento, quando são estimuladas com movimento, ao fim de um tempo, também aprendem o movimento, é como uma colagem de retalhos nada fácil, em que cada retalho tem de ser devidamente remendado e é preciso muita paciência.


Bem, acho que já estou a ser chata com esta conversa toda, mas é um facto assente, vivo as minhas dificuldades diariamente e encaro-as como fazendo parte de mim, continuando a vencer todos os dias pequenas conquistas, tentando dar um sentido a esta passagem pela vida do modo que sei e tentando sempre dar o melhor de mim, espalhando e colocando uma energia otimista, com esperança e semeando o melhor que existe na minha pessoa. Apesar de a minha vida ter dado um volta de 180o, estou de bem com a vida, aceito e tenho a certeza que vou sempre subir os degraus do arranha-céus e desfrutar de uma vista repleta de flores de todas as cores do arco-íris ao longo desta vida e espalhando sempre amor por aqueles que estão comigo e também que não estão nesta caminhada que me foi imposta pela vida.

Patrícia Arsérnio