30 outubro 2012

Reabilitação

A minha reabilitação tem sido muito lenta. É verdade que tenho passado por várias fases e todas tiveram a sua importância. A adaptação a cada fase tem o seu tempo certo, para poder adquirir e cimentar cada estímulo, vindo essencialmente de centenas de sessões de fisioterapia ao longo destes anos todos. Mais tarde, falarei sobre as diferentes etapas da minha reabilitação.
Este processo de reabilitação só foi possível graças ao amor e dedicação incondicional dos meus pais, do meu irmão, da minha família, dos meus amiguinhos lá do céu, amigos mais próximos e também graças à dedicação extrema dos meus terapeutas, que estiveram comigo ao longo destes anos todos, sem nenhuma exceção. Todas estas pessoas acreditaram nas minhas capacidades e também que eu podia melhorar mais. Este processo é claro que, também dependeu da minha força e persistência, pois não poderia reagir de outro modo, uma vez que resignar-me não faz parte da minha natureza.
Mostro agora algumas atividades da minha reabilitação, que fazem parte do meu quotidiano:
Fig. 1: Alongamentos (Este é o alongamento que gosto mais, sabe tão beeemmmm).
No início eram precisos dois fisioterapeutas para me realizarem os alongamentos, de forma a me estabilizarem os membros inferiores.

Fig. 2: Alongamentos. 

Na figura 3, lá estou eu com o meu "guarda-costas" para o caso de eu "tombar". Quando iniciei a marcha, esta tinha que ser realizada com bastante apoio por parte dos meus fisioterapeutas.



Fig. 3: Treino de marcha sem apoio.

Em relação à figura 4, quando comecei na passadeira, tinha de ter vários fisioterapeutas, um para dar apoio ao meu tronco e dois para me porem os pés nas posições corretas. Atualmente, já consigo caminhar sozinha, mas continuo a precisar de algumas correções que se conseguem com muito trabalho.



Fig. 4: Treino na passadeira.



 Vídeo: Treino na passadeira.


Estes são apenas alguns exemplos de exercícios que eu realizo, mais tarde vou publicar mais.

Este é um trabalho diário de muita luta e dedicação, quem passa por este processo, sabe dar o verdadeiro valor.
 
A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável.
Mahatma Gandhi


21 outubro 2012

Shopping


Estava em casa e a minha prima desafiou-me para ir ao shopping, e la fomos. Raramente vou às compras, as roupas vêm ter até mim, a minha mãe compra ou oferecem-me.

Quando são deslocações muito grandes, ainda tenho necessidade de usar a minha cadeira de rodas velhinha (que se desmancha toda ao abrir, pois tem anos de uso e foi sempre a mesma desde o início, tenho de ir com as pernas no ar porque a cadeira de rodas não tem apoio para os pés, mas isso não tem problema, fortalece os quadricípites), porque tenho dificuldades em realizar caminhadas de longa duração, pois fico muito cansada devido ao esforço que faço a caminhar.

Ao chegar ao shopping confrontamo-nos com uma situação muito frequente, os lugares reservados para pessoas com deficiência estavam ocupados por carros sem dístico, são pessoas que não têm educação nenhuma nem respeito pelos outros.

Entramos pela porta principal, e qual não foi o meu espanto, quando verifiquei que as portas não são automáticas e que precisava de ajuda, pois é preciso alguém abrir a porta para eu poder passar, por acaso eu tinha ajuda da minha prima, mas há muita gente que não tem essa ajuda.

Quando vou às compras de roupa, deixei de as vestir na loja, porque as cabines de provas são muitos pequenas para duas pessoas. Eu até tenho mobilidade para vestir as partes de cima sozinha, mas as partes de baixo preciso de ajuda quando estou de pé, porque posso desequilibrar-me. Eu tenho a noção que este mundo está feito à medida das pessoas com mobilidade, por isso há que ter alguma sensibilidade e respeito por quem tem dificuldades.

Apesar destes contratempos, foi uma tarde muito agradável que terminou num lanche cheio de calorias e a rir.
 
Bom apetite!

16 outubro 2012

Aprendizagem


Vou tentar explicar o que significa, para mim, a palavra "aprendizagem".

Quando estamos no útero da nossa mãe, já há uma troca de emoções muito grande, quer em termos físicos, quer em temos psicológicos. É como se fosse uma osmose durante 9 meses, as emoções que ambos sentem são praticamente as mesmas, ou seja, o que o feto sente, a mãe também o sente.

Quando nascemos, a primeira coisa que se aprende é soltar um grande choro e aí os pulmões soltam-se para abraçar a vida, eu acho que esta é a nossa grande aprendizagem.

Quando somos crianças, tudo são descobertas, há um mundo inteirinho para explorar, isto é inato, mas quanto mais estímulo a criança tiver, mais esta se desenvolve.

Quando somos jovens, encaráramos o mundo como se não houvesse amanhã, o que é próprio da irreverência da juventude, pois estes vão ser os homens e as mulheres do futuro. São educados, ensinados e instruídos duma forma estereotipada, e claro dependentes do contexto socioeconómico e cultural ao qual pertencem.

A sociedade, hoje em dia, está muito exigente. A informação é quase instantânea, em que as pessoas começam a não ter tempo para elas e sobretudo, não têm tempo para parár e pensar no que andamos cá a fazer, neste mundo. Deixam de dar valor ao seu interior e começam a interiorizar sentimentos mesquinhos, assim como, a ira, a inveja, a avareza, a magoa, o ódio, etc., e ficam de tal modo agarrados a estes pensamentos que não disfrutam das coisas boas que a vida nos oferece.
 
Quando falo das coisas boas que a vida nos premeia refiro-me, por exemplo: Ao saber apreciar o mar (se estivermos atentos, conseguimos ouvir o seu interior e assim escutar os seus conselhos e avisos, pois este é sábio);
 
 
Escutar um rio a correr no seu manto e as suas quedas de água, tal como, escutar uma nora de um moinho junto ao rio;
 
 
Estar num campo extenso com relva e comer aquelas azedas mal semeadas e rebolar no mesmo;
 
 
Estar próximo de um grupo de crianças a brincar entre si e estar atento à sua ingenuidade (a energia que fica no ar é contagiante, eu atrevo-me a dizer que toma conta de nós e o que no dá tamanha alegria);
O sol a bater na cara, num fim de tarde, com uma suave brisa, sabe tao bem.
Podia enumerar uma série de situações fantásticas, mas deixo isso para quem está a ler esta mensagem, fazê-lo por breves instantes.


O que gostaria de passar com esta mensagem é que a vida passa demasiado depressa, e se o comboio nos ultrapassa, passamos por ela sem saber o que andamos cá a fazer nem qual é a nossa missão na vida.     

08 outubro 2012

Keep your head up

Ouvi no rádio esta música que me chamou à atenção devido à sua letra…
 



 
Keep Your Head Up - Ben Howard
 
I spent my time watchin' the spaces that had grown between us.
And I cut my mind on second best or the scars that come with the greeness.
And I gave my eyes to the bottom, still the seabed wouldn't let me in,
And I tried my best to embrace the darkness in which I swim.
Oh the darkness in which I swim.




Now I'm walkin' back down this mountain
With the strength of a turnin' tide
Oh the wind so soft at my skin,
The sun so hot upon my side.
Oh lookin' out at this happiness,
I searched for between the sheets.
Oh feelin' blind, to realise,
All I was searchin' for was me.
Ooo all I was searchin' for was me.




Keep your head up, keep your heart strong.
No, no, no, no.
Keep your mind set, keep your hair long.
Oh my darlin' keep your head up, keep your heart strong.
Oh no no no no, keep your mind set in your ways, keep your heart strong.




I saw a friend of mine the other day,
And he told me that my eyes were gleamin'.
Oh I said I had been away, and he knew,
Oh he knew the depths I was meanin'.
And it felt so good to see his face,
Or the comfort invested in my soul.
Oh to feel the warmth of his smile,
When he said "I'm happy to have you home."
Ooh I'm happy to have ya home.


 

Keep your head up, keep your heart strong.
No, no, no, no.
Keep your mind set, keep your hair long.
Oh my darlin' keep your head up, keep your heart strong.
Oh no no no no, keep your mind set in your ways, keep your heart strong.
'Cause I'll always remember you the same,
Oh eyes like wildflowers, with your demons of change.
Yeah, keep your head up, keep your heart strong.
Oh, No, no, no, no.
Keep your mind set, keep you hair long.
Oh my my darlin', keep your head up, keep your heart strong.
Oh no no no no, keep your mind set in your ways, keep your heart strong.
'Cause I'll always remember you the same.
Oh eyes like wild flowers with your demons of change.
May you find happiness there,
May all your hopes all turn out right.
Ooh may you find happiness there,
May you find warmth in the middle of the night.
 
 


Esta mensagem tem algum significado para mim, uma vez que, é isto que tenho feito toda a minha vida. Manter sempre a cabeça erguida, de forma a seguir em frente e a abrir caminhos.

07 outubro 2012

Vitórias

Nesta mensagem, vou revelar-vos pequenas grandes vitórias que foram essenciais para a minha reabilitação. Atualmente, encontro-me muito melhor e mais independente, em todos os aspetos.
 
 

 

 

Felizmente, nunca perdi a memória e intelectualmente, estou muito bem, pois a parte cognitiva não foi afetada. Por este fato, não fiquei agarrada a uma cama ou a uma cadeira para o resto da minha vida, que mal tinha começado. Aceitei esta nova realidade e luto contra ela todos os dias sem nunca cessar nem baixar as armas de guerreira que sou.
 
O tónus muscular diminuiu bastante, o que permite realizar as minhas atividades diárias, assim como, tomar banho sozinha (só preciso que me ajudem a passar para a banheira, o resto faço eu). Se me derem algum tempo, consigo vestir-me e despir-me sozinha, já estou muito mais rápida e coordenada e as amplitudes dos meus movimentos estão quase normais, aquilo que me custa mais são os movimentos muito finos, como apertar um botão ou apertar o soutien. Calçar os sapatos e pôr as meias foi uma dura batalha, mas eu venci esta pequena guerrilha.
 
Após anos de estímulos constantes, mobilizações, alongamentos e muitas dores musculares, hoje consigo caminhar na passadeira do ginásio, de uma forma certinha e controlada. Este trabalho na passadeira, para ser conseguido, foram precisos muitos pré-requisitos, tais como, ter a noção do meu corpo e do seu alinhamento, não basta só senti-lo. O mais importante é a forma como o meu corpo está representado no meu cérebro e estimulá-lo nesse sentido, de modo correto. Quando ando sozinha (se não estiver cansada), os passos saem duma forma automática. No presente, consegui perceber que não e preciso muita força, basta utilizar os músculos harmoniosamente, porque andar e fácil para quem nunca perdeu essa capacidade.
 
Através da fisioterapia, já consigo gatinhar, de modo certo, rastejar alinhada e rebolar sem ser em bloco. Estas novas aquisições dão-me um jeitão, porque ao virar-me na cama, já não desmancho os lençóis e não fico entalada nas roupas.
 
Comer pela minha mão foi um trabalho árduo. Comecei com um engrossador no cabo da colher, com um antiderrapante debaixo do prato e uma barra adaptada do lado direito para a comida não voar, tal não era a descoordenação que tinha. Hoje consigo comer sozinha, sem adaptações nenhumas. O que resultou do meu esforço e dos meus que me acompanham nesta caminhada da vida, e também, porque, os meus braços e as minhas mãos, já o permitem fazer de modo mais ou menos harmonioso.
 
Como já referi anteriormente neste blog, fiquei muito afetada da visão, mas graças a Deus e à minha força, recuperei bastante. Fiz vários exercícios de fisioterapia constantes para reconhecimento e ter noção do meu corpo e do seu alinhamento. Estes envolveram várias estratégias dadas pelos meus queridos terapeutas ao longo destes anos todos. A equidade visual ainda não está normal, assim como, os campos de visão. Mas estou no caminho certo para a recuperação da mesma. O que quero dizer com isto é, por exemplo, a palavra “continente”, ao primeiro olhar, não vejo o primeiro “e”, tenho que rodar a cabeça e só assim consigo ler a palavra. Mesmo assim, estou mais rápida a ler, principalmente desde que comecei a escrever no computador. Este processo só é possível com a ajuda de um programa, este “lê” as letras que eu clico quando estou a escrever e eu confirmo no ecrã.
 
Por isso, estou muito orgulhosa por ter criado este blog, pois é fruto de um grande esforço e trabalho da minha parte, tendo uma pequena ajuda da minha prima, a editora.


04 outubro 2012

Dar tempo ao tempo...



"Saber esperar é uma virtude! Aceitar, sem questionar, que cada coisa tem um tempo certo para acontecer...é ter fé!!" Positive Vibrations

03 outubro 2012

Acordar...

Vou tentar descrever o que eu senti e pensei durante os primeiros 3 meses, após ter acordado do coma vígil, no qual me encontrava.

Não é fácil mexer nas gavetas antigas e arrumá-las no sítio correto. Verifiquei como é difícil reviver todas aquelas memórias que já estavam adormecidas, o que me fez ficar um bocado relutante em fazê-lo. É claro que agora não as vivo com a mesma intensidade. Vou falar numa realidade, que é a mesma de centenas de casos semelhantes ao meu. Ninguém nos dá a devida atenção e arrumam-nos a um canto, porque surge um médico ou uma equipa médica, que se lembra de dizer que já não há nada a fazer, por isso mandam­-nos para casa ou para lares, como vegetais, onde acabamos o resto dos nossos dias.

Com certeza tive algum anjo da guarda que me ajudou nesta caminhada. O médico quis mandar-me para casa acamada, a comer por um tubo e explicou-nos que iria uma assistente social ou enfermeira a casa, ensinar-nos como lidar com a situação, que era a nova realidade para todos. Felizmente, a minha família interveio neste processo, a minha mãe confrontou os médicos e exigiu que eu ficasse no hospital e tivesse a reabilitação adequada para o meu caso. Já que não me tinham socorrido no tempo certo, agora tinham que fazer alguma coisa por mim, visto que eu tinha entrado pelo meu próprio pé no hospital.

Tive muitos pensamentos, pois a minha cabeça estava muito confusa e com alucinações. Não tinha consciência do que me tinha realmente acontecido, só passados uns 3 meses, é que comecei a ter a noção, com a ajuda de muitos estímulos exteriores e fisioterapia.Acordei em pânico total, não via nada, não conseguia comunicar (a minha mãe diz que eu fazia uns grunhidos que se ouviam no piso todo onde estava internada), ora sentia-me encharcada com o calor, ora sentia um frio de rachar, não sabia mesmo o que se tinha passado.

Pensamentos… julgava que estava morta e nunca mais me vinham buscar, pois aquele cenário todo, que estava na minha cabeça, parecia uma espécie de purgatório.



Não tinha a perceção do meu corpo, nem do que me rodeava, o meu pensamento era que estava dentro de uma botija de gaz, pois sentia-me muito apertada e só conseguia mexer a cabeça e mal.

Era o pânico querer comunicar e não conseguir, porque na minha cabeça, eu sabia muito bem o que queria, mas não conseguia comunicar, até arranjarem uma forma de o fazer. Primeiro através do piscar dos olhos para dizer sim ou não, o que foi uma grande confusão para a minha cabeça. Muito mais tarde, diziam o alfabeto e eu mandava parar nas letras que eu queria e assim construir a palavra que queria dizer, só assim conseguia obter o que desejava, o que me permitiu acalmar, mas pouco.

Passei tanta sede que sonhava com rios a correr, pensava que as torneiras todas do mundo tinham ficado sem água, só mais tarde percebi que, se me dessem água, podia fazer um broncoespasmo e sufocar.

Sentia que a minha cama estava cheia de picos e os pés apertados, mais tarde percebi o porquê. Eu ia descendo na cama, e os pés ficavam entalados.

Havia um senhor padre que ia visitar os doentes e rezava à beira das camas. Eu ficava muito perturbada, o senhor com certeza não o fazia com essa intenção, mas eu pensava que estava morta, deveria querer a salvação daquele sofrimento que estava a passar.

Os banhos eram uma maravilha mas também uma grande confusão. Parecia uma chaleira com água aquecida e eu andava ali aos tombos na banheira, mas sabia bem, porque me relaxava os músculos e eu ficava mais calma, até me punham perfume e deixavam-me aconchegada. Isto acabou quando fui transferida para o hospital da Ordem Terceira, pois os banhos eram dados na cama, e por isso, ganhei uma escamação no corpo todo e tive de cortar o meu longo cabelo, quase todo. Nessa altura a minha preocupação era a comichão que sentia principalmente na cabeça, lembro-me de pedir para me coçarem, pois não conseguia, até ficar quase careca.

Vou acabar com choraminguices, porque estas memórias fazem parte do passado e este já la vai. Se me apetecer voltar a falar acerca desta fase da minha vida, eu volto a escrever sobre o assunto.