Somente
agora tenho capacidade para descrever realmente o que me aconteceu, quer em
termos de organização mental, quer fisicamente.
Eu
era uma jovem recém licenciada, em ensino da matemática e já a dar aulas na
escola secundária da Azambunja, pronta para abraçar o mundo, cheia de alegria
contagiante, dinâmica, teimosa, refilona, que nunca desconfiava das pessoas.
Era
asmática desde os 2 anos, sempre vigiada pelos melhores médicos da
especialidade de Lisboa. No dia 23 de Novembro de 1997, dei entrada no hospital
Amadora-Sintra, por volta das 3 da manhã, tendo ficado um acompanhante lá fora,
como tantas vezes já o tinha feito. Durante quase toda a minha vida tive de
lidar com este fato, e pensava que era apenas mais um ataque de asma normal,
pensava que chegava ao hospital me punham o oxigénio, administravam-me os
medicamentos, ficava lá umas horas e vinha para casa. Só me apercebi daquilo
que me aconteceu passados uns 3 meses e mal, pois estava muito confusa e
baralhada.
Eu
não era uma asmática muito grave e estava medicada, tinha ido à urgência quinze
dias antes e o médico receitou-me uma nova bomba para a asma, talvez esta tenha
sido a causadora do problema, ou então não, mas de qualquer forma, acabou por
contribuir para este desfecho. Talvez nunca saberei o que realmente me
aconteceu naquela madrugada simplesmente apaguei.
Como
consequência da minha paragem cardíaca, resultou um apagão quase total das
funções vitais do meu organismo. O meu cérebro ficou quase vazio da informação
adquirida ao longo de 26 anos. A sensação é a mesma a de um computador a que se
faz "reset" e tem de ser reprogramado.
As
lesões foram extensas, as quais as passo a citar: fiquei cega, com um quadro de
tetraplegia e espástica, sem falar, a respirar com a ajuda de um ventilador e a
comer através de uma sonda introduzida no nariz até ao estômago, dependente de
todas aquelas máquinas que me davam suporte de vida, apenas a minha memória não
foi afetada. Tudo isto resultou de uma anóxia cerebral, isto é, faltou oxigénio
no cérebro, o que fez um edema com uma considerável extensão nos 2 lobos, cuja
lesão foi muito grave, fez bastantes estragos irreversíveis e de muito difícil
reabilitação.
Estive
em coma profundo durante 63 horas, acordei no hospital Santa Maria ao som da
voz da minha mãe, ali estava eu em modo "vegetal", tal como uma couve
lombarda, pois era assim que os médicos afirmavam que iria ficar toda a vida,
talvez um dia me sentasse numa cadeira e aprendesse as 5 vogais, em resumo
ninguém dava nada por mim, ou seja, pensavam que eu iria ficar para sempre
agarrada à cama. Quando fiquei estável, fui transferida para o hospital da
minha residência, o hospital Amadora-Sintra, onde tive duas convulsões e não
voltei a responder a estímulo algum. Mais tarde fui para o hospital Ordem
Terceira e terminei no Hospital de Alcoitão onde iniciei a minha reabilitação.
Contra
todas as espetativas tenho vindo a recuperar, muito devagar, mas como devagar
se vai ao longe, cá estou eu para cada batalha até vencer a guerra. Eu acho que
as únicas pessoas que acreditaram que pudesse recuperar foram os meus pais e o
meu querido mano, porque se não fosse o amor, a dedicação e a persistência
deles eu não estava como estou hoje.
Agora
estou mais atenta, bonita segundo as outras pessoas, mas hoje acho que sou
bonita por dentro e por fora.
Eu sou testemunha dessa recuperação. Conheço te desde Alcoitão e posso afirmar com muito orgulho, que para mim, tu Patricia és uma fonte de inspiração e exemplo para qual ser humano. És linda linda por dentro e por fora e agradeço por fazeres parte da minha vida. . .infelizmente pelas piores razões lol Adoro te e estou muito orgulhosa de ti.
ResponderEliminarVi a tua reportagem na Televisão e vi que és uma rapariga cheia de força,vi a alegria que tens ao lado do teu pai,grande pai.Apoia-te muito nos teus pais e mano,por vezes (quase sempre) não podemos esperar ajudas de pessoas fora do meio familiar,infelizmente as pessoas continuam a não ligar a quem não conhecem muito bem,
ResponderEliminarForça,continua a tua luta e vais vencer