Vou escrever sobre as minhas pequenas grandes
vitórias recentes.
Consigo finalmente rastejar no tapete fazendo a
dissociação das cinturas pélvicas e escapulares, isto é, fazer movimentos com a
cintura e os ombros de modo mais harmonioso e coordenado, conseguindo desta
forma fazer melhor as transferências de peso para ambos os lados.
Já consigo estar semi-ajoelhada à esquerda e à
direita, durante algum tempo, permanecendo alinhada e deste modo sentindo-me
equilibrada. A partir da posição semi-ajoelhada também consigo assumir a
posição em pé e ficar equilibrada, bastando para isso uma referência, como por
exemplo, olhar fixamente para um objeto em frente.
Há pouco tempo comecei a ter noção do
meu corpo de uma forma mais automatizada. Existem partes do meu corpo que
parecem estar mais representadas no meu cérebro, sinto que está mais acordado
em relação há umas semanas atrás, tenho mais a perceção da parte direita do meu
corpo, o que é bastante bom, como consequência a marcha tornou-se mais fluída
porque estão a ser solicitados músculos que há muito tempo não trabalhavam, músculos
estes que nem sabia que os tinha, são cá umas dores, parecem choques elétricos.
Também comecei a perceber que os meus
pés têm um papel fundamental na marcha, como estão menos espásticos consigo
adaptá-los ao piso (consigo sentir melhor a parte de dentro dos pés, antes o
meu cérebro só reconhecia a parte de fora dos meus pés), devido ao fato de a
cintura pélvica estar mais maleável e outros fatores. Isto permite-me toda esta
evolução que só foi possível porque há muita dedicação de quem me acompanha no
dia-a-dia e graças à minha persistência e daqueles que me ajudam nesta
caminhada. Consigo perceber certos movimentos que antes não percebia que
existiam, apesar de serem solicitados, só agora consigo executá-los.
Com a melhor conceção do meu corpo, a
visão melhorou bastante, quer na acuidade visual, quer em nos campos visuais,
permitindo-me executar tarefas que eram impossíveis de realizar, deixando-me
bastante contente e satisfeita e com vontade de continuar a lutar e conseguir a
minha independência. Aliás acho que o fato de estar a recuperar a visão à
medida que tenho mais perceção do corpo é uma grande alavanca para continuar
esta batalha que tenho de enfrentar todos os dias.
É claro que as pessoas que não estão
diretamente envolvidas na minha recuperação e só querem ver resultados
imediatos e práticos, não procuram saber e nem conhecem nada de neurologia,
dando a sua opinião, dizendo que já é altura de caminhar sozinha sem ninguém
por perto, dizendo que tenho é medo e pouca força de vontade, eu proponho
colocarem-se no meu lugar e sentirem o que sinto e pensarem um pouco no que
estão a dizer, tento ignorar, mas não e fácil fazê-lo, talvez escreva acerca
deste assunto mais tarde, se me apetecer.
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