26 setembro 2012

O início da minha longa caminhada..

Somente agora tenho capacidade para descrever realmente o que me aconteceu, quer em termos de organização mental, quer fisicamente.

 
Eu era uma jovem recém licenciada, em ensino da matemática e já a dar aulas na escola secundária da Azambunja, pronta para abraçar o mundo, cheia de alegria contagiante, dinâmica, teimosa, refilona, que nunca desconfiava das pessoas.

 
Era asmática desde os 2 anos, sempre vigiada pelos melhores médicos da especialidade de Lisboa. No dia 23 de Novembro de 1997, dei entrada no hospital Amadora-Sintra, por volta das 3 da manhã, tendo ficado um acompanhante lá fora, como tantas vezes já o tinha feito. Durante quase toda a minha vida tive de lidar com este fato, e pensava que era apenas mais um ataque de asma normal, pensava que chegava ao hospital me punham o oxigénio, administravam-me os medicamentos, ficava lá umas horas e vinha para casa. Só me apercebi daquilo que me aconteceu passados uns 3 meses e mal, pois estava muito confusa e baralhada.

 
Eu não era uma asmática muito grave e estava medicada, tinha ido à urgência quinze dias antes e o médico receitou-me uma nova bomba para a asma, talvez esta tenha sido a causadora do problema, ou então não, mas de qualquer forma, acabou por contribuir para este desfecho. Talvez nunca saberei o que realmente me aconteceu naquela madrugada simplesmente apaguei.

 
Como consequência da minha paragem cardíaca, resultou um apagão quase total das funções vitais do meu organismo. O meu cérebro ficou quase vazio da informação adquirida ao longo de 26 anos. A sensação é a mesma a de um computador a que se faz "reset" e tem de ser reprogramado.

 
As lesões foram extensas, as quais as passo a citar: fiquei cega, com um quadro de tetraplegia e espástica, sem falar, a respirar com a ajuda de um ventilador e a comer através de uma sonda introduzida no nariz até ao estômago, dependente de todas aquelas máquinas que me davam suporte de vida, apenas a minha memória não foi afetada. Tudo isto resultou de uma anóxia cerebral, isto é, faltou oxigénio no cérebro, o que fez um edema com uma considerável extensão nos 2 lobos, cuja lesão foi muito grave, fez bastantes estragos irreversíveis e de muito difícil reabilitação.

 
Estive em coma profundo durante 63 horas, acordei no hospital Santa Maria ao som da voz da minha mãe, ali estava eu em modo "vegetal", tal como uma couve lombarda, pois era assim que os médicos afirmavam que iria ficar toda a vida, talvez um dia me sentasse numa cadeira e aprendesse as 5 vogais, em resumo ninguém dava nada por mim, ou seja, pensavam que eu iria ficar para sempre agarrada à cama. Quando fiquei estável, fui transferida para o hospital da minha residência, o hospital Amadora-Sintra, onde tive duas convulsões e não voltei a responder a estímulo algum. Mais tarde fui para o hospital Ordem Terceira e terminei no Hospital de Alcoitão onde iniciei a minha reabilitação.

 
Contra todas as espetativas tenho vindo a recuperar, muito devagar, mas como devagar se vai ao longe, cá estou eu para cada batalha até vencer a guerra. Eu acho que as únicas pessoas que acreditaram que pudesse recuperar foram os meus pais e o meu querido mano, porque se não fosse o amor, a dedicação e a persistência deles eu não estava como estou hoje.
 
Agora estou mais atenta, bonita segundo as outras pessoas, mas hoje acho que sou bonita por dentro e por fora.

13 setembro 2012

Férias de Verão 2012




Vou escrever sobre as minhas férias, durante o mês de Agosto, no Algarve. Desde que me conheço que passo as férias em Lagos.

Após o meu acidente aos 26 anos (mais tarde volto a falar neste assunto), fiquei com dificuldades na locomoção, mas os meus pais e os meus primos nunca deixaram de me proporciar umas boas férias, dentro das minhas capacidades. Vou sempre à praia, apesar das minhas dificuldades. Há sempre uma mão amiga que me ajuda e por isso estou muito grata.

Já é mais fácil caminhar na areia, mas há sempre "tourada" (estou sempre com a mania de perguntar se estou a andar direita ou torta, o meu pai refila e tal como eu, não sabemos estar calados. E a minha mãe, fica no meio, sofre bastante, tenho de aprender a estar calada e a fechar o bico).

Nas férias, o meu pai fica mais calmo, deve ser por evitar o stress do trânsito diário de Lisboa e estarmos perto do mar.

Este ano a minha prima, foi chamada para ir trabalhar e não está presente, teve sorte em arranjar trabalho na área do curso, para o qual estudou. Por isso não esteve connosco na praia, como nos outros anos, só esteve no último fim-de-semana das férias. Eu sinto a sua falta, cresceu e agora está a construir o caminho dela, teve um anjinho da guarda, que a guia e protege, pois ela é uma boa menina.

A praia tem estado boa, com a nortada do costume, com o calor que se sentiu, até soube bem. Quando cheguei, a temperatura do mar estava boa, contudo tinha alguma ondulação, o que me dificultava caminhar dentro de água, devido à minha falta de equilíbrio, mas mesmo assim consegui tomar umas ricas banhocas. Passado uns dias, a água ficou mais calma, embora mais fria, o que me possibilitou caminhar e nadar à vontade, como eu gosto.



Este ano, foi mesmo para descansar na praia, apanhar uma corzinha às horas corretas, e assim não abusar do sol em demasia. Sentada na beira do mar e na areia molhada, sentia­-me tão bem, que parecia que não tinha limitações nenhumas. Parecia que este ambiente fazia parte de mim, houve uma sintonia bastante grande­, parecia que o mar estava a falar comigo, as ondas que se formavam à beira mar aproximavam-se banhando-me e parecia que estavam a convidar-me para ir ter com ele, o mar.No final das férias, achei que estava muito melhor a caminhar na areia e dentro de água, comparando com o ano anterior. Parece que o meu lado direito "acordou" mais um pouco. Mesmo sendo pouco, juntando os pedaços, logo fará um todo.


11 setembro 2012

Quem é Pandora?

O rei dos deuses, Zeus, criou Pandora com o objetivo de castigar todos os homens que usufruíam do fogo, roubado do Olimpo por Prometeu. Para tal, enviou Pandora para a Terra com uma missão: ofereceu-lhe uma caixa e pediu-lhe para a entregar ao homem com quem casasse. Deste modo, conheceu Epimeteu, irmão de Prometeu, por quem se apaixonou e mais tarde, casou.

Pandora estava muito feliz no seu casamento, por isso acabou por se esquecer da caixa. Passado algum tempo, esta começou a sentir-se sozinha, devido às viagens do seu marido, o que a fez relembrar do seu dote.

Por curiosidade, decidiu abrir a caixa, libertando assim toda a espécie de sentimentos negativos, sombrios e odiosos, como a inveja, a raiva, a ira, o ciúme, etc., em forma de várias criaturas semelhantes a insetos.

Ao aperceber-se do que tinha feito, fechou rapidamente a caixa. Entretanto, começou a ouvir uma voz que lhe dizia: "Pandora, deixe-me sair, só eu posso ajudá-la". Como era uma voz doce, resolveu voltar a abrir a caixa, libertando assim a fada da Esperança. Esta explicou-lhe quais as intenções de Zeus e informou-a que não poderia voltar a prender todos estes males, uma vez que já estavam espalhados pelo mundo.

Pandora começou a chorar e pediu-lhe ajuda, ao que a fada explicou que também tinha sido colocada na caixa com o intuito de dar esperança aos sofredores, lembrando-os que o amanhã pode ser melhor.


 

Para mim a esperança significa que mesmo que o dia seguinte não seja perfeito, há sempre formas de retirar as pedras do nosso caminho, utilizando-as para ir construindo um castelo.