Realmente acho que estou
melhor em várias partes da minha longa e dura reabilitação em todos os níveis,
físico, independência motora e no dia-a-dia, achando deste modo que estou no
caminho correto, no entanto sinto-me por vezes sozinha, por vezes, sinto que
algo me falta para me sentir plena no meu interior mas vou descobrir com certeza
ou talvez não, aquilo que me perturba tanto, mas também me pergunto a mim mesma
quem é que está sempre satisfeito, contente constantemente e todos os dias,
talvez seja uma fraqueza minha, mas ninguém me obriga a ser forte e lutar, faço-o
porque o quero nesta luta que travo, embora esteja sempre rodeada por pessoas,
família sempre disponíveis e prontos para me auxiliarem incondicionalmente e em
qualquer situação e por isto estarei eternamente agradecida, mas também tenho sentimentos
e este direito que me assiste.
Patrícia pára mas é com
estas lamechices, e termina de melhor maneira que puderes de conquistar cada
vez mais e subir mais degraus que é para ti.
A parte motora, sinto que
tenho mais contolo nas cinturas pélvica e escapular ou seja ombros e ancas, o
controlo do tronco está mais automático, logo implica melhor qualidade no movimento,
mas é fruto de muitos alongamentos. Movimentos infinitamente repetidos, algumas
dores físicas que já fazem parte da rotina e às quais não lhes dou muita
importância, mas sei que estou a trabalhar para mim e por isto não quebro e nem
desisto até Deus me permitir alcançar o alto da serra, mesmo com os ventos a
soprar noutra direção.
Estes movimentos que ganhei
vão permitir alcançar outros patamares, mesmo que sejam pequenos aos olhos de outros,
para mim é extremamente importante ter alcançado este estado porque vão
permitir alcançar outros níveis diferentes, mais ambiciosos e difíceis, mas
como sou muito otimista vou tentar passar as barreiras que encontro no meu caminho.
A minha marcha está mais
automática, mais coordenada e sobretudo mais firme ao caminhar, o apoio dos pés
já é o correto mas a coordenação ainda falha, ainda não consigo controlar as
alterações do tónus muscular, ou seja a espasticidade, no entanto em nada se
compara com uns meses atrás. Tudo isto conseguido porque a cintura pélvica está
mais livre, mais solta e os movimentos fluem naturalmente e sem esforço.
Os exercícios no colchão,
assim como, andar de gatas, de joelhos e rastejar acho que fazem uma grande
diferença em pouco tempo, talvez seja por ultimamente ter insistido mais intensamente
nestes, ajudando desta forma a uma maior estabilidade central ou seja maior
controlo do tronco, porque obriga a uma série de músculos que estavam
adormecidos a trabalharem novamente e sobretudo, obriga-os a trabalharem em
conjunto e coordenadamente.
Por estes motivos, por
sentir o corpo a responder, por ter mais reconhecimento do mesmo, como agora
ele está mais no mapa do meu cérebro (já falei acerca desta representação anteriormente),
só tenho motivos para estar orgulhosa do meu ter trabalhado, e sou abençoada mesmo
por estar a recuperar.
Este trabalho é como
alguém, que estimo e respeito bastante, me disse, que uma vez foi visitar o mar
e queria trazê-lo consigo, mas depressa percebeu que não o podia fazer mas se
unisse as mãos em concha e trouxe-se uma porção de cada vez que o fosse
visitar, acabava por ter aquela imensidade sempre junto dele e ia estar sempre
junto do mesmo, que tudo se conquista pouco a pouco e trabalhando, estas
palavras ecoaram em mim e fez-se luz que temos de ser perseverante, pelo menos,
foi assim que as interpretei naquele momento e até hoje.
Patrícia Arsénio