Têm sido variadas as estratégias
utilizadas pelos terapeutas que trabalham comigo, principalmente nestes últimos
anos, mas não quero ser injusta com aqueles que trabalharam comigo
anteriormente, porque todos eles tiveram um papel importante e cada um, numa
determinada fase da minha longa caminhada, mas com frutos de reabilitação.
Uma entre muitas das estratégias
utilizadas desde há cerca de uns 3 anos é a privação da visão com o objetivo de
outros sentidos ficarem mais atentos e assim os estímulos tornam-se mais
intensos. Esta é feita com auxílio de uma venda preta nos olhos, com o objetivo
de desenhar um mapa mental da perceção correta do meu corpo. A sensibilidade ao
toque no meu corpo não foi afetada, mas a percepção que tenho do mesmo é que nem
sempre é a correta, e por vezes quando realizo esta atividade, fico bastante
baralhada, tonta e com dores de cabeça, mas é normal, visto que o cérebro está
a ser bombardeado com estímulos novos.
No início desta terapia com a venda
nos olhos, ficava deitada no colchão e o terapeuta batia com uma bola no colchão,
e eu nem percebia se a bola batia acima, abaixo, do lado direito ou esquerdo do
local onde me encontrava. Quando andava de gatas se não tivesse uma parede ou algo
como referência, começava a andar às voltas e nem me apercebia, mesmo com referências,
era um exercício difícil para mim, mas tinha de ser feito.
Após muito trabalho e muita dedicação
minha, dos meus terapeutas e quilos de paciência, atualmente já consegui
melhorar bastante, pois estas atividades foram-me impostas diariamente com a
venda nos olhos. A perceção do meu corpo está melhor, tornando-se assim mais fácil,
rolar, gatinhar, rastejar, realizar o treino de marcha, andar ajoelhada para a esquerda
e para a direita e realizar todas as atividades no colchão, atividades estas
que no início eram impossíveis de executar sem a venda nos olhos, quanto mais com
os olhos tapados, por este fato, fico muito satisfeita com as minhas
realizações, sobretudo por ter atingido este patamar da minha longa reabilitação,
contra todas as expetativas médicas, dado o meu quadro clínico inicial.
Estas conquistas todas fazem com que
continue a lutar por mim e por todas as pessoas que acreditam realmente na
minha recuperação física, porque eu acredito realmente que vou conseguir
atingir o topo, até onde me deixarem chegar e enquanto a minha família mais próxima
conseguir ajudar, porque se dependesse só da segurança social eu estava
tramada. Estou muito ofendida, desiludida com o sistema nacional de saúde, não só
por mim, mas também por muitas pessoas em situações semelhantes, que não tem
este apoio privado que a minha família me tem dado.