A minha reabilitação
tem sido muito lenta, como já referi anteriormente neste desabafo que faço aqui
neste espaço. Escolhi este modo de transmitir aquilo que sinto ou já senti e
vou sentindo durante este processo, testando assim a minha persistência e
daqueles que me rodeiam no dia-a-dia, isto não é nada fácil.
Todos os dias são
dias de luta, batalhas que travo comigo mesma e não posso e nem quero desistir porque
todos os ganhos que tenho, sei que vou ter melhor qualidade de vida, independência,
em suma estou a trabalhar para mim mesma, porque esta agora é a minha profissão.
Na fisioterapia os ganhos são obtidos
diariamente, com o objetivo de ter a noção do meu corpo, isto é, não basta
senti-lo, tive de representá-lo no meu cérebro novamente como se fosse um novo
mapa, através de várias estratégias arranjadas pelos queridos fisioterapeutas,
mas este trabalho, ainda está a caminho de ser consolidado, ainda temos um
percurso longo pela frente.
As estratégias definidas
pelos terapeutas são variadas e adaptadas a cada fase de evolução, dependendo
da resposta do organismo a cada estímulo e na hora certa.
Há uma primeira fase
que o terapeuta coloca umas talas nas mãos, pés, braços e pernas para tentar
mobilizar os membros, lembro-me muito bem desta fase porque é bastante dolorosa
e chata, mas já passou há bastante tempo. Atualmente os meus braços e pernas já
não têm praticamente limitações, apenas a mão direita ainda tem alguma espasticidade
e em alguns movimentos finos tenho mais dificuldades.
É claro que os movimentos
não se adquirem com um passe de magia e nem são espontâneos, é necessário muita,
muita dedicação no trabalho, quer dos terapeutas que me acompanharam e daqueles
que estão comigo neste momento. Este processo de reabilitação, tem tido evolução,
lenta e certa, mas há evolução contra todas as expetativas de alguns médicos
que me acompanham neste processo. Houve um médico neurologista, numa das
consultas, que me questionou se queria ficar toda a minha vida encolhida e a
lamentar o sucedido ou se queria lutar, porque ele acreditava em mim e só
bastava eu acreditar também, logo conseguia tudo. Este médico já tinha muito
calo em casos semelhantes ao meu, então disse para esquecer a matemática
durante uns anos e para me concentrar na reabilitação e assim o tenho feito,
porque agora recuperar é a minha nova profissão. Este médico nem sabe o quanto
aquelas palavra, ditas no tempo certo, foram importantes e sábias para mim e
fizeram-me acreditar.
Na minha opinião,
acho que tenho encontrado as pessoas certas que me rodeiam ou rodearam, em cada
etapa durante esta nova realidade com qual me confronto todos os dias, também tenho
tido alguma sorte, mas até esta tem de ser procurada porque não se pode ser
passiva nestas situações de limite, contudo não posso de deixar de salientar o
quanto é importante o papel da família mais próxima, mais uma vez agradeço a Deus e aos meus amiguinhos lá do céu, porque eles sabem muito bem como têm-me
ajudado neste percurso a superar as minhas limitações.
Esta é a nova profissão,
não, eu não a escolhi, foi-me imposta pela vida e o meu papel é lutar enquanto
tenho munições na arma e quando estas acabarem, luto com a espada, se me a retirarem
vou recorrer à minha força interior.
Deixo aqui um pensamento:
“O céu é o limite para o que queremos alcançar na vida, todos temos asas para
voar, mas alguns ainda não sabem como voar.”
Tenho a noção que nem
todos os casos neurológicos não evoluem favoravelmente, há muitos que regridem
e há alguns que estagnam, contudo até tenho alguma sorte, porque evolui
favoravelmente apesar das expetativas de alguns profissionais de saúde. Alguns deveriam
ter mais cuidado com aquilo que dizem e com certos discursos, as mesmas podem
influenciar as atitudes de quem passa por esta pouca sorte, quer positivamente,
quer negatividade. Falo desta realidade porque tenho lidado com várias
situações destas ao longo destes anos todos.
Enfim, o mais importante
é acreditar que vamos alcançar o nosso objetivo, seja em que situação for, mas
temos de pôr toda a nossa força e acreditar realmente e sem reservas, há que
ter esperança.