17 maio 2013

Profissão

A minha reabilitação tem sido muito lenta, como já referi anteriormente neste desabafo que faço aqui neste espaço. Escolhi este modo de transmitir aquilo que sinto ou já senti e vou sentindo durante este processo, testando assim a minha persistência e daqueles que me rodeiam no dia-a-dia, isto não é nada fácil.


Todos os dias são dias de luta, batalhas que travo comigo mesma e não posso e nem quero desistir porque todos os ganhos que tenho, sei que vou ter melhor qualidade de vida, independência, em suma estou a trabalhar para mim mesma, porque esta agora é a minha profissão.

Na fisioterapia os ganhos são obtidos diariamente, com o objetivo de ter a noção do meu corpo, isto é, não basta senti-lo, tive de representá-lo no meu cérebro novamente como se fosse um novo mapa, através de várias estratégias arranjadas pelos queridos fisioterapeutas, mas este trabalho, ainda está a caminho de ser consolidado, ainda temos um percurso longo pela frente.

As estratégias definidas pelos terapeutas são variadas e adaptadas a cada fase de evolução, dependendo da resposta do organismo a cada estímulo e na hora certa.
Há uma primeira fase que o terapeuta coloca umas talas nas mãos, pés, braços e pernas para tentar mobilizar os membros, lembro-me muito bem desta fase porque é bastante dolorosa e chata, mas já passou há bastante tempo. Atualmente os meus braços e pernas já não têm praticamente limitações, apenas a mão direita ainda tem alguma espasticidade e em alguns movimentos finos tenho mais dificuldades.
É claro que os movimentos não se adquirem com um passe de magia e nem são espontâneos, é necessário muita, muita dedicação no trabalho, quer dos terapeutas que me acompanharam e daqueles que estão comigo neste momento. Este processo de reabilitação, tem tido evolução, lenta e certa, mas há evolução contra todas as expetativas de alguns médicos que me acompanham neste processo. Houve um médico neurologista, numa das consultas, que me questionou se queria ficar toda a minha vida encolhida e a lamentar o sucedido ou se queria lutar, porque ele acreditava em mim e só bastava eu acreditar também, logo conseguia tudo. Este médico já tinha muito calo em casos semelhantes ao meu, então disse para esquecer a matemática durante uns anos e para me concentrar na reabilitação e assim o tenho feito, porque agora recuperar é a minha nova profissão. Este médico nem sabe o quanto aquelas palavra, ditas no tempo certo, foram importantes e sábias para mim e fizeram-me acreditar.

Na minha opinião, acho que tenho encontrado as pessoas certas que me rodeiam ou rodearam, em cada etapa durante esta nova realidade com qual me confronto todos os dias, também tenho tido alguma sorte, mas até esta tem de ser procurada porque não se pode ser passiva nestas situações de limite, contudo não posso de deixar de salientar o quanto é importante o papel da família mais próxima, mais uma vez agradeço a Deus e aos meus amiguinhos lá do céu, porque eles sabem muito bem como têm-me ajudado neste percurso a superar as minhas limitações.

Esta é a nova profissão, não, eu não a escolhi, foi-me imposta pela vida e o meu papel é lutar enquanto tenho munições na arma e quando estas acabarem, luto com a espada, se me a retirarem vou recorrer à minha força interior.

Deixo aqui um pensamento: “O céu é o limite para o que queremos alcançar na vida, todos temos asas para voar, mas alguns ainda não sabem como voar.”

Tenho a noção que nem todos os casos neurológicos não evoluem favoravelmente, há muitos que regridem e há alguns que estagnam, contudo até tenho alguma sorte, porque evolui favoravelmente apesar das expetativas de alguns profissionais de saúde. Alguns deveriam ter mais cuidado com aquilo que dizem e com certos discursos, as mesmas podem influenciar as atitudes de quem passa por esta pouca sorte, quer positivamente, quer negatividade. Falo desta realidade porque tenho lidado com várias situações destas ao longo destes anos todos.

Enfim, o mais importante é acreditar que vamos alcançar o nosso objetivo, seja em que situação for, mas temos de pôr toda a nossa força e acreditar realmente e sem reservas, há que ter esperança.


02 maio 2013

Desabafo

Apesar de estar a evoluir satisfatoriamente e contra todas as expetativas médicas, o governo ou a falta de coordenação entre as entidades responsáveis pela saúde, estão-me a cortar as pernas para andar, digo isto no sentido figurado.

Houve alguém na direção geral de saúde, sem nunca me ter observado, que decidiu que já não precisava de mais sessões de fisioterapia através da segurança social. Das duas uma, ou acham que já não tenho reabilitação e arrumam-me a um canto e já gasto o orçamento previsto para a saúde, ou passo a ser uma moeda de troca para a Troika. Deixei de ser um ser humano com necessidades de tratamentos diários, e passei a ser simplesmente um número para a segurança social.
 
Os médicos que me seguem, um neurologista fisiatra e um médico do centro de saúde ao qual pertenço, elaboram relatórios sobre a minha situação, de forma a poder obter tratamentos de fisioterapia. Acho uma falta de respeito pelos colegas de profissão que avaliam estes relatórios ou mesmo incompetência, falta de consideração e de coordenação pela forma como conduzem os processos na direção geral de saúde.
 
Ao fim de tantos anos de fisioterapia, com tanto esforço físico, desgaste emocional dos meus pais, família mais próxima e gastos monetários, tenho pena de ser mais um número no orçamento de estado, agora que estou numa boa fase de reabilitação. Já enviei novos relatórios acerca do meu estado atual mas continuo sem resposta há cerca de 3 meses, mas há que ter esperança.
 
Mesmo que não tivesse recuperação nenhuma, o que não é o meu caso, as pessoas acamadas ou com grandes limitações, deveriam ter acesso aos cuidados de saúde prestados pela segurança social, de forma a poderem melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, e quase sempre, isso não acontece.









Escrevi este texto quando estava revolta com a situação, mas que me foi imposta. Não o publiquei nessa altura, e entretanto já recebi os resultados da segunda avaliação da direção geral de saúde, referente aos meus relatórios médicos. Finalmente, as sessões de fisioterapia foram aprovadas, já não vou ficar em casa à espera que a chuva caia, a cair no tédio, sem fazer nada por isso, e posso continuar a minha luta.